“Sonho com o dia em que o sol de Deus vai espalhar justiça pelo mundo todo.”
Ariano Suassuna
O Brasil vive hoje um momento de aguda crise política, talvez sem precedentes.
A maior parte da população não se identifica de modo algum com os partidos e instituições da república. O povo não se enxerga nos órgãos de poder pois não vê neles os seus valores e anseios representados. Não vê neles a concretização da justiça.
O próprio modo como o debate público funciona hoje no Brasil exemplifica bastante esse distanciamento em relação às pessoas comuns. No fim das contas, cada um dos lados do espectro político dá vazão a uma parte dos anseios populares. Contudo, sempre o fazem de modo mutilado.
De um lado, a direita, majoritariamente conservadora nos costumes e liberal na economia, expressa, até certo ponto, alguns valores legítimos em temas morais, como a oposição à legalização do aborto e às chamadas “teorias de gênero”, porém, com suas políticas econômicas desumanas, humilha os pobres e os trabalhadores. Por sua vez, a esquerda, majoritariamente liberal nos costumes e social-democrata em economia, coloca-se muitas vezes de modo justo ao lado dos humilhados e desvalidos, no entanto, com suas posições em matéria de valores, não poucas vezes se opõe às mesmas camadas populares que deseja representar.
É, pois, para colaborar com a superação desta dramática crise que surge a Comunhão Popular. Movidos por um profundo amor ao Brasil e ao próximo, resolvemos agir, ao invés de apenas lamentar. Não acolhemos pela metade os anseios populares, nem queremos justiça que não seja por inteiro. Defendemos sim a vida por nascer e a família natural, mas apoiamos com igual força e empenho a causa dos pobres e dos assalariados, da redução das desigualdades e da preservação do meio ambiente. Para nós, a carne que sangra e geme por ajuda no irmão que passa fome é a mesma carne que sangra e geme inocente no útero da mãe. Não queremos nem aceitamos ter de escolher entre uma e outra.
Somos conservadores e trabalhistas. Somos solidaristas e adeptos da lei natural. Denunciamos a corrosão dos valores e boas tradições, ao mesmo tempo em que lutamos para que o Estado brasileiro direcione todos os esforços para a implantação de uma economia comunitária e soberana, em que prevaleça verdadeiramente o bem comum.
A Comunhão Popular é um movimento político e patriótico de inspiração cristã, pautado pela Doutrina Social da Igreja.
Nossa convicção fundamental, como pessoas de fé, é de que, além de ser uma boa nova de salvação e vida eterna, que redime o ser humano do pecado, o cristianismo é também uma poderosa mensagem ética, portadora de valores humanos únicos, essenciais para a construção de uma sociedade justa.
Não somos, porém, sectários. Não intencionamos restringir a liberdade religiosa de ninguém. Não exigimos dos nossos filiados que professem a fé cristã. Tampouco pretendemos falar em nome da Igreja, mas apenas em nosso próprio nome. Nosso propósito é apenas reunir de maneira organizada e consequente todos os homens e mulheres de boa vontade, crentes ou não, que reconheçam no conteúdo ético do Evangelho a luz mais adequada para enfrentar os problemas de nosso país hoje.
Resumindo de maneira esquemática, o nosso programa político consiste na defesa de quatro valores básicos, os quais consideramos princípios fundamentais e inegociáveis de qualquer sociedade digna deste nome. São esses valores a vida, a família, o trabalho e a solidariedade.
Primeiro Princípio – Vida
Toda pessoa humana, independentemente de sexo, idade, classe, credo, etnia, condição de saúde, orientação sexual ou qualquer outra singularidade, é criada à imagem e semelhança de Deus. Quer dizer, é um alguém, não um algo; possui dignidade, não preço. Sua vida, portanto, é sempre sagrada, valiosa por si mesma, e deve ser integralmente protegida, em todos os seus direitos humanos básicos, desde o momento da concepção até a morte natural. Dentro dos limites da lei moral natural e das exigências do bem comum, perante os quais todos temos deveres irrenunciáveis, cada pessoa deve possuir a mais ampla liberdade de ação possível.
Segundo Princípio – Família
A família natural, fundada na união livre, amorosa, exclusiva e duradoura entre um homem e uma mulher é a célula básica da sociedade. Constitui espaço primeiro de formação da pessoa e vínculo histórico entre as gerações. Deve, pois, ser especialmente defendida e promovida como a mais fundamental de todas as comunidades humanas, a partir da qual todas as outras se desenvolvem. Em particular, cabe à família a prioridade no processo educativo dos menores, processo com o qual deverão colaborar, de maneira firme e substancial, mas sem invasão de competências, a escola, as entidades religiosas, a sociedade e o Estado.
Terceiro Princípio – Trabalho
Mais do que mero esforço por sobrevivência, o trabalho é uma atividade por meio da qual o ser humano se realiza como pessoa e coloca a natureza ao seu serviço. Deve-se, portanto, garantir verdadeiramente a prioridade do trabalho sobre o capital, das pessoas sobre as coisas, da justiça sobre o lucro, e neste sentido transformar todo o atual sistema econômico. Alcançaremos, assim, uma autêntica economia comunitária, do trabalho digno. Esta economia se caracteriza por larga difusão e fácil acesso à pequena propriedade; redução das desigualdades sociais; centralidade dos corpos intermediários; fortalecimento da sociedade civil organizada e dos órgãos de poder locais; incentivo ao cooperativismo e à cogestão; mercado livre, mas subordinado ao bem comum; soberania nacional; proteção especial das pequenas e médias empresas; tributação progressiva; amplos serviços públicos básicos prestados pelo Estado; garantia de direitos trabalhistas e previdenciários; reforma agrária; reforma urbana; cuidado do meio ambiente, a casa comum.
Quarto Princípio – Solidariedade
A pessoa humana é por natureza sociável e precisa da vida em comunidade para se desenvolver plenamente. Não somos átomos nem ilhas. O bem comum, do conjunto da sociedade, deve, portanto, sempre prevalecer sobre os interesses particulares, quaisquer que eles sejam. Ademais, em todas as questões públicas, é dever de justiça privilegiar as necessidades dos mais vulneráveis, dos mais frágeis. Esta opção preferencial se aplica, em primeiro lugar, aos pobres, os prediletos de Deus. Contudo, especial atenção merecem também todas as pessoas e grupos que ao longo da história e hoje encontram-se particularmente expostos a tratamentos injustos, seja em razão de características físicas, sexuais, culturais ou étnicas, dentre outras.
Estas são as nossas convicções fundamentais. Estes são os valores que nos alimentam – e que, acreditamos, alimentam também a enorme maioria do povo brasileiro, cristão ele que é. A partir destes princípios inegociáveis se dará a nossa ação, sempre nos estritos limites da lei e comprometida com a manutenção do regime democrático, recusando qualquer inspiração totalitária.
Sob Deus e com os pobres, vamos, a partir de agora, construir a Comunhão Popular!
Signatários
- Pedro Henrique dos Santos Ribeiro
- Soraia dos Santos Bernardineli
- Rodrigo Moco
- Carlos José Dias dos Santos Junior
- Júlio César de Paula Ribeiro
- Paulo Giovanni Pereira
- Ingrid Queiroz de Moura
- Matheus Fernandes Jacinto
- Gustavo Siqueira Aleixo
- Fernanda Dos Santos Garcia Oliveira
- Thiago de Azevedo
- Douglas Eduardo de Souza
- Thiago Pires
- Bruno da Silva Antunes de Cerqueira
- Flávio Daltro Lemos
- Yuri Ramos Ferreira
- Cristina Cezar Campos
- Lizandro Ribeiro Ferreira da Costa
- Fernanda Dos Santos Garcia Oliveira
- Maria Aldice da Silva de Attayde
- Marisa Pittella Oliveira
- Bruno Pittella Oliveira
- Mateus Oliveira de Lucia
- Lavínia Schena
- Rafael de Mesquita Diehl
- Gustavo Vasconcelos de Andrade
- Cleber Nunes Kraus
- Thalis do Nascimento Saraiva
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