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Quem defende o reinado de Cristo?

Hoje, na Igreja Católica, celebra-se a solenidade de Jesus Cristo, Rei do Universo. Instituída em 1925, pelo papa Pio XI, a festa foi criada para comemorar e difundir o Reinado Social de Cristo.

Na encíclica “Quas Primas”, que estabeleceu a festividade, Pio XI afirma que o Reino de Deus “é primariamente espiritual e se refere às coisas espirituais”. Adverte, porém, que “seria um grave erro negar ao Cristo-Homem o poder sobre todas as coisas humanas e temporais, visto que o Pai lhe conferiu um direito absoluto sobre as coisas criadas, de modo que todas estão sujeitas ao seu arbítrio”. Conclui que, no Juízo Final, Cristo acusará aqueles que o expulsaram da vida pública, “pois sua dignidade real exige que toda a sociedade se conforme aos mandamentos divinos e aos princípios cristãos.”

De fato, Jesus veio a este mundo sobretudo com uma missão sobrenatural. O que Ele deseja, acima de tudo, é reinar em nossas almas por toda a eternidade. Mas como as almas estão ligadas aos corpos e as sociedades humanas são criaturas de Deus, aí também Cristo tem o direito de reinar. Não à toa, o mesmo Senhor que afirmou “meu Reino não é deste mundo” (Jo 18,36), disse também “o Reino de Deus está entre vós” (Lc 17, 21).

Muitas pessoas, mesmo cristãs, têm dificuldade de aceitar essa doutrina. Na grande maioria das vezes, isso se deve ao laicismo, uma mentalidade intolerante, segundo a qual a fé diz respeito só à vida privada e a política nada tem a ver com a religião. Trata-se de uma ideia absurda se refletirmos racionalmente sobre a questão.

Como seria possível, para qualquer pessoa, esquecer das suas crenças mais profundas na hora do debate político? Uma visão de mundo é o modo como a pessoa encara a realidade, não em um momento específico, mas em todos. O ateu irá atuar como cidadão a partir de sua perspectiva materialista. O candomblecista formará suas ideias políticas a partir dos valores de sua crença nos orixás. Da mesma forma, o cristão se sentirá chamado a agir na esfera pública de acordo com os princípios do Evangelho. Este é o sentido do Reinado Social de Cristo.

Isso não significa que o Estado deva se tornar uma teocracia, ou que se deva diminuir a liberdade religiosa dos que não creem em Cristo. Em que pese os erros históricos de muitos homens da Igreja, sempre foi parte do ensino cristão que a fé é um ato livre e que qualquer conversão imposta não tem valor aos olhos de Deus.

Da mesma forma, não é verdade que basta gritar “Viva Cristo Rei!” para que alguém possa ser considerado um defensor do Reinado Social de Cristo. Disse Jesus: “Nem todo aquele que me diz: ‘Senhor, Senhor!’ entrará no Reino dos Céus, mas somente aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos Céus” (Mt 7, 21). Todo governo e líder político deve ser avaliado não pelo discurso religioso que invoca – muitas vezes de modo hipócrita -, mas pelas realizações concretas que produz.

Em sua luta pelo fim da discriminação e segregação racial, o pastor Martin Luther King Jr. sempre invocava o nome do Senhor e denunciava o pecado que era colocar em posição de inferioridade uma multidão de filhos de Deus. Ora, também os racistas e supremacistas brancos se julgavam defensores do Evangelho. Quem encarnava e promovia o Reino de Cristo: King ou os seus inimigos?

Sabemos que há diferentes entendimentos sobre a dimensão cristã ideal que o Estado deveria assumir. O debate dos “deveres do Estado perante Deus” contempla muitas posições defensáveis, mas a data de hoje é maior que isso. No terreno enlameado da hegemonia liberal laicista de hoje, o Reinado Social de Cristo pede com urgência que nos unamos para construir uma sociedade política vital e realmente cristã. Nessa sociedade, o cristianismo ilumina a ação política, ao invés de ser só “questão de ordem privada” ou um elemento decorativo do Estado.
Nós, da Comunhão Popular, seguimos a exortação do Papa João Paulo II no início de seu pontificado: “procurai abrir, melhor, escancarar as portas a Cristo! Ao Seu poder salvador, abri os confins dos Estados, os sistemas económicos assim como os políticos, os vastos campos de cultura, de civilização e de progresso! Não tenhais medo! Cristo sabe bem ‘o que é que está dentro do homem’. Somente Ele o sabe!”

Que Viva Cristo Rei!

Sob Deus e com os pobres,

A Comunhão Popular

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