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O que pensar sobre o Novo Ensino Médio?

Todos conhecemos o estado crítico da educação brasileira. E um dos seus maiores problemas é o altíssimo índice de evasão escolar. De cada 100 jovens brasileiros, 20 não chegam a concluir o ensino básico, enfrentando por isso graves problemas depois, em sua vida social e profissional.

O mais chocante, porém, não é apenas o índice de evasão, mas a causa dele. De fato, ao contrário do que se poderia imaginar, a principal razão para o abandono da educação formal não são dramas como a gravidez na adolescência ou a dificuldade de conciliar trabalho e estudo, mas puro e simples desinteresse. Boa parte dos jovens simplesmente detesta a escola.

Visando enfrentar esse cenário, em 2017, o então Presidente Michel Temer aprovou a chamada reforma do ensino médio, cuja implementação se inicia em todo o país neste ano. Apesar de ter sido levada adiante pelo polêmico presidente interino, tal reforma era um consenso da classe política, tendo sido defendida, ainda que de formas diferentes, tanto por Dilma quanto por Aécio nas eleições de 2014.

O Novo Ensino Médio, por meio de uma reforma radical do currículo, visa tornar a escola algo atrativo para o aluno, mais próximo da realidade dele. Sua grande novidade é dar ao estudante a possibilidade de escolher, até certo ponto, quais serão as disciplinas que irá estudar, conforme o seu campo de interesse. Assim, o aluno que é mais de humanas poderá se aprofundar nesse campo, enquanto outro se dedicará mais às ciências exatas.

Nós, da Comunhão Popular, vemos com simpatia muitos aspectos do Novo Ensino Médio, mas acreditamos que é preciso ir além da mera questão do currículo.

Em primeiro lugar, é preciso ter em mente as disparidades do sistema brasileiro de educação. Em grandes escolas particulares, com recursos adequados, a reforma do ensino médio poderá trazer benefícios importantes. No entanto, cerca de 80 por cento dos estudantes brasileiros não são da rede privada, mas da pública, que se encontra muitas vezes hoje em situação precária.

Será que o Estado brasileiro, que hoje falha tanto em seu dever com a educação, será capaz de executar bem uma reforma educacional tão abrangente? Fica a dúvida. E fica o dever de fiscalizar.

Além das incertezas sobre a implementação, falta para nós um elemento essencial, que deixamos claro em nosso manifesto: os pais são os primeiros educadores dos menores e, portanto, devem ter sempre a prioridade do processo educativo. Na prática, isto significa que somente em forte diálogo com as famílias a comunidade escolar será capaz de implementar o Novo Ensino Médio de forma satisfatória. É preciso garantir aos pais dos alunos o direito a uma voz ativa na definição dos rumos da vida escolar.

Da mesma forma, é preciso integrar a comunidade local. Por que não estabelecer cooperação com os clubes de bairro, para promover a atividade física e o ensino em tempo integral? Por que não promover nas escolas eventos culturais, tanto da arte erudita quanto da cultura popular? Por que não se integrar com as escolas de samba, aproveitando toda a sua rede de costureiras e aderecistas para o ensino técnico?

Acreditamos também que o Ensino Médio deve ser o espaço de amadurecimento de uma consciência ética, nacional e cidadã. Por que não fazer parcerias com instituições de assistência social, estimulando assim entre os alunos a prática do voluntariado e a aquisição de valores como solidariedade e altruísmo? Nesse sentido, igrejas, associações de moradores, orfanatos e hospitais podem se tornar grandes parceiros da escola pública, disputando uma juventude à deriva, tantas vezes seduzida pelo crime e pelas drogas.

Somente uma educação humanista e cidadã, profundamente enraizada nas famílias e na vida do povo, será capaz de mudar nosso país! Somente uma educação assim será capaz de cumprir a meta de todo verdadeiro processo educativo: formar boas pessoas, e não apenas bons estudantes ou bons profissionais.

Sob Deus e com os pobres,

A Comunhão Popular.

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