Segundo este princípio, o trabalho, mais do que mero esforço por sobrevivência, é uma atividade por meio da qual o ser humano se realiza como pessoa e coloca a natureza ao seu serviço. Deve-se, portanto, garantir verdadeiramente a prioridade do trabalho sobre o capital, das pessoas sobre as coisas, da justiça sobre o lucro, e neste sentido transformar todo o sistema econômico.
Alcançaremos, assim, uma autêntica economia comunitária, do trabalho digno. Esta economia se caracteriza por difusão e fácil acesso à pequena propriedade; redução das desigualdades sociais; centralidade dos corpos intermediários; fortalecimento da sociedade civil organizada e dos órgãos de poder locais; incentivo ao cooperativismo e à cogestão; mercado livre, mas subordinado ao bem comum.
Também são características da economia comunitária que almejamos a soberania nacional; a proteção especial das pequenas e médias empresas; a tributação progressiva; os serviços públicos básicos prestados pelo Estado; as garantias de direitos trabalhistas e previdenciários; a reforma agrária; a reforma urbana; o cuidado do meio ambiente, casa comum.
Em síntese, a Comunhão Popular assume uma posição extremamente crítica em relação ao capitalismo liberal contemporâneo, no qual o centro da economia é o indivíduo atomizado, guiado unicamente por seus interesses particulares – sistema cuja maior expressão está nas grandes empresas privadas, de donos milionários, guiadas unicamente pela busca do lucro a qualquer preço.
Não que por isso sejamos adeptos do socialismo ou do comunismo. Pelo contrário. Assim como recusa os modelos econômicos privatistas, a Comunhão Popular também se opõe com radicalidade a todo e qualquer projeto de teor coletivista, no qual o Estado assumiria o controle absoluto da economia, esmagando as iniciativas dos diferentes indivíduos e grupos. Assim como não é um átomo isolado, a pessoa também não é uma mera engrenagem a serviço do corpo social.
Na linhagem histórica do distributismo de G. K. Chesterton, do trabalhismo de Alberto Pasqualini e do solidarismo do Padre Fernando Bastos d’Ávila, o que a CP defende com todas as forças é a construção de um outro sistema produtivo, inteiramente novo, no qual o centro da economia não esteja nem nas grandes empresas nem na ação interventora do poder público, mas nas comunidades reais, nos corpos intermediários, isto é, em toda aquela grande variedade de grupos sociais existentes entre o indivíduo solitário e o Estado central.
Daí nossa simpatia e preferência pelos empreendimentos locais, comunitários, como os negócios familiares, as empresas de bairro, as cooperativas de trabalhadores e as firmas que praticam cogestão. É no fortalecimento destes tipos de empresa que deve se focar a ação do poder público.
Contra o capitalismo, sem cair no socialismo: uma economia de comunhão!