Em 1973, os Estados Unidos da América se tornaram uma das primeiras nações do mundo a legalizar amplamente o aborto. Esta decisão foi tomada não pelo Congresso, mas pela Suprema Corte do país, no julgamento do caso “Roe vs Wade”.
Por mais que a Constituição americana não faça qualquer referência, em momento algum, à questão do aborto, o tribunal superior entendeu que a carta magna de 1787 autorizava a chamada interrupção da gravidez, na medida em que o texto consagra, entre outros, o direito individual à privacidade. Hoje, porém, quase cinquenta anos depois, esta interpretação no mínimo duvidosa pode estar prestes a ser anulada.
Na noite da última segunda-feira, o site politico.com trouxe à tona o vazamento de um documento interno da Suprema Corte. Relacionado a um julgamento atual, que envolve a regulamentação do aborto no estado do Mississipi, o texto é um relatório escrito pelo juiz conservador Samuel Alito. Neste relatório, uma espécie de rascunho da decisão da Corte, o magistrado, representando o voto da maioria dos juízes, exige a anulação de “Roe vs Wade”.
Neste momento, a Suprema Corte já confirmou a veracidade do arquivo, mas como a decisão final do julgamento só vem em junho, toda a situação ainda está bastante nebulosa. Seja como for, para nós da Comunhão Popular, que somos firmes e convictamente engajados na causa pró-vida, defendendo a dignidade de toda pessoa humana, desde a concepção até a morte natural, este episódio já traz consigo valiosas lições.
Durante as últimas décadas, todo nós, progressistas ou conservadores, pró-vida ou pró-legalização, nos acostumamos a acreditar que a legalização do aborto era um destino inevitável para as nações, uma tendência inexorável da história. Os progressistas obviamente viam isso com otimismo e acreditavam que era seu papel acelerar o processo. Os pró-vida, como nós, pessimistas diante do cenário trágico, entendiam que era seu papel resistir às pressões do tempo. Tanto uns quanto outros, porém, sempre encarando o curso da história como indo na mesma direção.
Pois a notícia de ontem nos mostrou que não é assim. Nós, que lutamos pelos direitos dos nascituros, não estamos condenados ao fracasso. Nós, que defendemos os mais pobres entre os pobres, os mais indefesos e frágeis de todos – os não nascidos – não estamos condenados à derrota, nem hoje nem amanhã.
A rota da história não está pré-definida. Ela pode mudar, mesmo que cinco décadas depois. Os povos podem tomar consciência dos seus erros e tomar a via do arrependimento.
Obviamente, não devemos ser ingênuos. Mesmo que a Suprema Corte confirme sua decisão no próximo mês, muitas batalhas se seguirão a respeito, tanto no parlamento federal da América quanto nos legislativos estaduais.
Independentemente disso, porém, uma coisa muita importante e bastante animadora todo este caso nos ensinou: sempre há ESPERANÇA!