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SAÚDE MENTAL PRECISA DE POLÍTICA PÚBLICA

A depressão e a ansiedade são cada vez mais reconhecidas como os “males do nosso século”. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), a população brasileira é a mais deprimida da América Latina. Em países como os Estados Unidos, o quadro é ainda pior.

Ainda que se possa distinguir grupos em que essas doenças são mais salientes, como mulheres e pessoas acima de 50 anos, é cada vez mais comum sua ocorrência em diversas idades, entre homens e mulheres e em todas as camadas sociais.

Assim como a saúde física afeta o desempenho dos seres humanos e sua vida social, ocorre o mesmo no campo da saúde mental. Mais recentemente, a pressão provocada por transtornos mentais tem sido acelerada tanto pelo mundo digital quanto por uma dinâmica de trabalho que aliena a dignidade humana e coloca o lucro acima das pessoas. A pandemia e suas transformações sociais e culturais deixaram escancarado o problema dessa “epidemia” de depressão e ansiedade em nossa sociedade.

Apesar desse quadro generalizado e das contribuições da psicologia, psiquiatria e neurologia nas últimas décadas, os transtornos mentais ainda sofrem muito preconceito. Costumam ser associados a características individuais, como fraqueza de vontade, falta de Deus ou falhas de caráter, quando, na verdade, são condições involuntárias que geram sofrimentos e incompreensão para seus portadores. Quando, na verdade, são sintomas de uma sociedade doente.

Há quem acredite ainda que todo e qualquer transtorno mental deva ser tratado com internação psiquiátrica. Também há aqueles que veem esses males como “doenças de rico”. Há quem ache, ainda, que se trata de um simples problema individual de cada um, ou que todos devem buscar uma espécie de “coaching” psicológico, uma orientação espiritual secularizada, para viver em harmonia consigo mesmo e com os demais.

Essas posições desconsideram as condições psicológicas insalubres da vida urbana atual. São horas de transporte até o local de trabalho. Tarefas repetitivas, na frente do computador ou em atendimentos ao público, nas quais se movimenta pouco, se realiza menos ainda e se desgasta muito. O contato interpessoal passou a ser mero intercâmbio de informações. Exposição excessiva a telas, com interação social real em queda. A alimentação é vista ou como consolo em açúcares e aditivos químicos, ou como obsessão purista, cheia de tabus e pecadilhos alimentares de cientificidade duvidosa. Mesmo a forma de se exercitar fisicamente, para aqueles que podem pagar por academias, é industrial e vazia de sentido. Ausência de orientação espiritual e de formação no cultivo das virtudes. Sono perturbado por todos os fatores acima. E se tudo der errado, é culpa do cidadão, que não se esforçou o suficiente para realizar os seus sonhos, está tomando os remédios errados ou está sendo puxado para trás por vínculos como família, lar ou escolha de emprego.

Nas palavras do filósofo Byung Chul-Han, “a queixa do depressivo, ‘nada é possível’, só pode ocorrer em uma sociedade que pensa: ‘nada é impossível’”.

Nós, da Comunhão Popular, estamos empenhados em soluções para tudo isso, a despeito da abrangência do problema. Acreditamos que parte dessa mudança exige a constituição de uma política nacional específica para a saúde mental, nos âmbitos da prevenção e da intervenção. É preciso, em especial, investir nos CAPS (Centros de Atenção Psicossocial), que fazem um atendimento integrado, com psicologia, psiquiatria e assistência social, mas que hoje se encontram totalmente sucateados. Também organizações filantrópicas, como o CVV (Centro de Valorização da Vida), ligado à Federação Espírita Brasileira, merecem apoio.

Investir em saúde mental, além de dever para com o bem estar do ser humano, redunda em inúmeros benefícios para o bem comum, como:

1 – Maior qualidade de vida pessoal;

2 – Melhor convivência familiar e social;

3 – Redução de conflitos por desentendimentos entre familiares, vizinhos e transeuntes;

4 – Melhores resultados e qualidades no ambiente de trabalho;

5 – Redução de ocorrências em atendimento de saúde resultante de quadros psicossomáticos.

Sob Deus e com os pobres,

A Comunhão Popular.

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