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Viva a Língua Portuguesa

5 de maio é o Dia da Língua Portuguesa.

O Brasil é, em última análise, a parte da América do Sul em que se fala português. Já cantava o samba-enredo da Mangueira, em 2007, inspirado em Fernando Pessoa: “Cantando eu vou/Do Oiapoque ao Chuí ouvir/A minha pátria é minha língua/Idolatrada obra-prima te faço imortal/Salve… Poetas e compositores/Salve também os escritores/Que enriqueceram a tua história/Ó meu Brasil/Dos filhos deste solo és mãe gentil/Hoje a herança portuguesa nos conduz/à estação da luz/Vem no vira da Mangueira vem sambar/Meu idioma tem o dom de transformar/Faz do Palácio do Samba uma casa portuguesa/É uma casa portuguesa com certeza.”

Na preparação deste texto, surgiram diversas citações possíveis, referências a gênios da literatura e opiniões a respeito dos rigores e flexibilidades da nossa língua. Aos que se interessam por esses temas, recomendamos o documentário “Português, a Língua do Brasil”, dirigido por Nelson Pereira dos Santos (2007), que entrevista 16 membros da Academia Brasileira de Letras (ABL) sobre as perspectivas do nosso idioma. Escolhemos, aqui, destacar as reflexões de três acadêmicos que participam do documentário: Alberto da Costa e Silva, Ariano Suassuna e Sérgio Paulo Rouanet.

A língua portuguesa vive uma “aventura extraordinária” no Brasil, segundo o embaixador Costa e Silva, na qual o vocabulário e a expressão lusitana são desafiados pelo Novo Continente. Essa empreitada é facilitada porque o português é uma língua plástica, visual, de marinheiros, de um povo que tem que contar aos outros o que nunca fora visto antes. Nossa língua continua a atravessar os mares: em meio a múltiplas incorporações, variações e padrões regionais, um angolano escreve e entendemos o que ele quer dizer, mesmo que se refira a realidades que não são as nossas.

Suassuna, por sua vez, foi um dos mais aguerridos cavaleiros da defesa da língua portuguesa frente ao descuido generalizado, ao descaso educacional e à agressividade da influência estrangeira. Não se trata de um combate menor. Nas palavras do patrono da Comunhão Popular, escritas na Folha de São Paulo em 31 de julho de 2000: “minha luta em defesa do português é entendida por mim como parte indispensável da outra, maior: a luta contra a entrega do nosso território, da nossa economia, da nossa identidade cultural”.

Como esclarece o próprio Suassuna, lutar contra a descaracterização da língua portuguesa não é purismo ou obsessão engessadora: “sei perfeitamente que um idioma é uma coisa viva e pulsante. Não queremos isolar o português, que, como acontece com qualquer outra língua, se enriquece com as palavras e expressões das outras. Mas elas devem ser adaptadas à forma e ao espírito do idioma que as acolhe. Somente assim é que deixam de ser mostrengos que nos desfiguram e se transformam em incorporações que nos enriquecem”.

Além de se opor aos estrangeirismos, a defesa do português se contrapõe ao que Sérgio Rouanet chama de “populismo pedagógico”, que busca desestimular o aprendizado dos padrões normativos da língua e, na verdade, fortalece as desigualdades da nossa sociedade. Ao invés de a educação servir para dotar o povo do conhecimento de um código padronizado, que coexistirá com a riqueza do seu registro falado do cotidiano e lhe dará acesso a extensa formação cultural, política e de personalidade, opta-se por deixá-lo no mesmo gueto em que já se encontra, introvertido, em uma sociedade já tão marcada por guetos. Deixa-se a juventude na ignorância em nome de suposta espontaneidade. Ora, para escrever em português não-canônico, é preciso conhecer o português canônico; para operar intencionalmente com transgressões à norma culta da língua, é preciso conhecer a língua.

Nós, da Comunhão Popular, cerramos fileiras com aqueles que defendem nosso idioma, sem medo de continuar a aventura intensa da língua portuguesa na América. Com suas vírgulas, crases, regionalismos e a eterna tensão entre a norma culta e a “língua certa do povo”, o português é elemento de unidade nacional, motivo de orgulho para os brasileiros e laço de irmandade com os demais países lusófonos.

Sob Deus e com os pobres,

A Comunhão Popular.

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