Enquanto preparávamos nossa mensagem de Dia das Mães, veio à memória o dia 12 de janeiro de 2010, em que um terremoto de 7,2 graus na escala Richter atingiu o Haiti. Entre as milhares de vítimas fatais daquela tragédia, figurava uma das grandes brasileiras da nossa história. Dra. Zilda Arns Neumann, médica, mãe, conhecida como “Madre Teresa Brasileira”, estava em Porto Príncipe em missão humanitária para introduzir a Pastoral da Criança no Haiti quando foi atingida pelos escombros do teto da igreja em que discursava.
Nascida em 25 de agosto de 1934, na cidade de Forquilhina (SC), Zilda foi a caçula de 13 irmãos. Teve uma infância simples, cercada pela natureza, e já na adolescência interessou-se pela área da saúde, auxiliando a mãe na realização dos partos das mulheres que viviam na região. Mais tarde, formou-se em medicina pediátrica e tornou-se uma das maiores sanitaristas da história do Brasil. Em uma vida rodeada por crianças, teve cinco filhos e dez netos com Aloísio Bruno Neumann, seu esposo.
Em 1980, coordenou uma campanha de vacinação contra a poliomielite, cujo método de trabalho e organização foi tão exitoso que passou a ser adotado pelo Ministério da Saúde como modelo para combater a epidemia no Brasil. Em seguida, a convite de Dom Paulo Evaristo Arns, arcebispo de São Paulo e seu irmão, fundou e coordenou a Pastoral da Criança, com o auxílio de Dom Geraldo Majella Agnelo. Depois, a convite da CNBB, fundou e coordenou a Pastoral da Pessoa Idosa.
A Pastoral da Criança, em especial, merece um comentário à parte. Alcançando regiões precárias, em que muitas vezes nenhum médico chegava, a Pastoral da Criança enfatizava a importância da amamentação, ensinava fórmulas simples de se evitar a desnutrição e instruía as mães sobre o crescimento saudável das crianças. Começando com um pequeno grupo de voluntários, logo o projeto tomou conta de todo o território nacional e se estendeu para 20 países da América Latina, Ásia e África, tornando-se um estrondoso sucesso no combate à desnutrição e à mortalidade infantil. Como forma de reconhecimento, Zilda recebeu uma indicação ao Prêmio Nobel da Paz, em 2006.
Qual o segredo de tamanho sucesso? Dra. Zilda Arns foi buscar inspiração no milagre bíblico da multiplicação, em que Jesus alimentou cinco mil pessoas contando apenas com dois peixes e cinco pães (Jo 6, 1-15). Assim, ela propôs, como método de medicina preventiva, a multiplicação da fraternidade e do conhecimento, por meio de voluntários que se dispunham a informar e educar as mães e as famílias pobres. Dra. Zilda Arns, portanto, percebeu que o fortalecimento dos laços comunitários de solidariedade é o segredo para colocar as famílias brasileiras no caminho correto da vida e da esperança.
Nós, da Comunhão Popular, queremos levar adiante os princípios que informam o legado da Dra. Zilda Arns. Estamos comprometidos em trabalhar pela construção de um Brasil mais justo, mais solidário, por meio da valorização das comunidades. O amparo necessário às crianças e aos idosos brasileiros não cairá pronto nem do Estado nem do mercado, mas advirá da atuação integral da sociedade. Com políticas públicas que recebam recursos adequados, desenvolvidas e implementadas em conjunto com as famílias e associações locais, queremos que nosso país seja, para cada criança concebida, árvore forte o suficiente para abrigar muitos ninhos protegidos de ameaças e predadores.
Sob Deus e com os pobres,
A Comunhão Popular.