“O verdadeiro oposto do burguês não se encontra no comunista, mas no homem religioso – o “homem de desejo”. O burguês deve ser substituído não tanto por outra classe quanto por outro tipo de humanidade. É verdade que a sucessão do burguês envolve o advento do trabalhador, e não se pode falar de um retorno ao antigo regime das castas privilegiadas. Marx não estava errado em sua dialética de mudança social, mas no materialismo estreito de sua interpretação que excluía o fator religioso.”
Christopher Dawson
Estamos acostumados a pensar em “burguês” apenas como um termo vazio, usado por colegas comunistas da faculdade ou professores de esquerda da escola. Para Christopher Dawson, porém, não é assim.
Segundo o importante historiador católico – aliás, muito apreciado nos círculos de direita do Brasil – a “mentalidade burguesa” é algo muito concreto: uma disposição compulsiva para poupar e ganhar, que não vê valor intrínseco em dar, renunciar e deixar mais do que uma herança patrimonial. O burguês enxerga todas as relações com base no interesse econômico e nas aparências e, por isso, tem o “espírito fechado”, em conflito com a abertura inerente à perspectiva cristã.
A mentalidade burguesa é a mentalidade do mundo em que vivemos. Mas esta não é a mentalidade que nós, da Comunhão Popular, desejamos. Não somos contra o comércio, a poupança e as cidades, nem pretendemos o retorno da nobreza e do regime de servidão. Somos contra o “espírito fechado”, que vê no cálculo utilitário a centralidade das ações, a acumulação, a opulência e o status social como fim e, com isso, justifica a transformação do egoísmo em virtude.
A saída, porém, não é a revolução sem espírito de Marx. Onde o comunismo foi aplicado, a “mentalidade burguesa” imperou, com o novo regime fazendo as vezes da Revolução Industrial. Não basta trocar o burguês pelo proletário e continuar “fechado” em um materialismo prático, movido apenas pelas motivações econômicas, pelo desejo de destruição da ordem e por tudo que é mecânico.
Queremos o “homem do desejo”, que, para Dawson, é Santo Agostinho, é São Francisco de Assis. É aquele que vê no produto do seu trabalho uma expressão de si mesmo para fora e não apenas um meio de enriquecer e obter sucesso, que se entrega barrocamente para o que é verdadeiro e que só tem valor se é gasto e partilhado, como o amor, a beleza e a inventividade.