Para nós, solidariedade não é apenas uma palavra gentil. Trata-se de parte integrante missão do ser humano, que nasceu para entregar a si mesmo em favor da comunidade.
Princípio Solidariedade
Segundo este princípio, a pessoa humana é por natureza sociável e precisa da vida em comunidade para se desenvolver plenamente. Não somos átomos nem ilhas.
O bem comum, do conjunto da sociedade, deve, portanto, sempre prevalecer sobre os interesses particulares, quaisquer que eles sejam.
Ademais, em todas as questões públicas, é dever de justiça privilegiar as necessidades dos mais vulneráveis, dos mais frágeis.
Esta opção preferencial se aplica, em primeiro lugar, aos pobres, os prediletos de Deus. Contudo, especial atenção merecem também todas as pessoas e grupos que ao longo da história e hoje encontram-se particularmente expostos a tratamentos injustos, seja em razão de características físicas, sexuais, culturais ou étnicas, dentre outras.
Conforme ensinou o Padre Fernando Bastos d’Ávila, nosso mestre, “Solidariedade é a condição concreta de duas ou mais pessoas, das quais cada uma só se realiza precisamente à medida que empenha o seu ser e haver na promoção do outro, ou dos outros”.
Muito antes de ser uma virtude ou um qualidade pessoal, portanto, a solidariedade é uma realidade, é um fato bruto: queiramos ou não, somos interdependentes – precisamos uns dos outros, só nos desenvolvemos uns com os outros.
A consciência dos laços invisíveis que unem todas as pessoas, sobretudo as mais próximas, traz consigo uma série de consequências práticas, que a Comunhão Popular busca tornar realidade.
A primeira dessas consequências é a obrigação de um pensamento enraizado. Se o ser humano é por natureza sociável e solidário, então toda a sua reflexão e ação deve sempre partir da cultura concreta na qual está inserido. Daí porque a CP assume sempre em seu discurso um tom radicalmente patriótico, de defesa da cultura popular e da soberania nacional, contra todo imperialismo, explícito ou disfarçado.
Não temos vergonha de ser brasileiros, nem tomamos outros países como modelo para nós. Pelo contrário. Temos orgulho de nossa história e nossa identidade. Valorizamos a língua, as festas, os costumes, os valores e a religiosidade de nosso povo.
Não ignoramos os defeitos, vícios e vergonhas de nossa pátria, mas sabemos bem que apenas mergulhando profundamente em si mesmo e em suas raízes é que o Brasil poderá ser grande.
Em segundo lugar, o fato de sermos interligados nos obriga a reconhecer que, infelizmente, nem todos possuem as mesmas oportunidades na sociedade e que, na verdade, muitos de nossos irmãos e irmãos são diariamente submetidos a tratamentos injustos.
É um dever de solidariedade que os mais fortes saiam em defesa dos mais fracos. Em especial, é dever do Estado, autoridade pública estabelecida por Deus para a promoção do bem comum, velar pelos pequenos.
As necessidades dos pobres, portanto, ocupam o primeiro plano das preocupações da Comunhão Popular, bem como as de outros grupos historicamente marginalizados, como os negros e as pessoas com deficiência.
Da mesma forma, o fato de defendermos explicitamente a visão cristã da sexualidade humana, além de denunciarmos os os abusos da “ideologia de gênero”, não nos impede de estar unidos às mulheres, bem como aos homossexuais, na luta contra todas as formas de violência e tratamento injusto que estes grupos recebem e que violam a dignidade da pessoa humana.