Às vezes parece que para nós, brasileiros, os bons exemplos estão sempre distantes. Enaltecemos, corretamente, as virtudes de Gandhi, Martin Luther King, da Madre Teresa de Calcutá, de heróis da resistência antinazista e do papa João Paulo II, mas relutamos em afirmar a grandeza de nossos conterrâneos. Quando nos deparamos com brasileiros de vida heroica, florescente, volta-nos porém a esperança em nossa comunhão de destino como povo.
Em um 26 de maio como hoje, há 108 anos, nascia em Salvador uma dessas flores tão nossas, que nos restituem à consciência de nossa vocação para o bem. Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes, a Irmã Dulce, “o Anjo Bom da Bahia”, uma as padroeiras da Comunhão Popular. Desde cedo tocada pela caridade, a irmã Dulce foi professora, foi contemplativa, fundou movimento operário, invadiu imóveis abandonados para atender doentes em Salvador. Transformou um galinheiro em grande hospital, apoiou cooperativas, fundou instituto de religiosas – e tudo isto dormindo todas as noites em uma cadeira, para cumprir promessa feita em favor da gravidez de sua irmã. O que movia a “Santa Dulce dos Pobres”, o que lhe dava essa disposição para agir?
Cremos que Irmã Dulce floresceu porque soube educar-se ao longo da vida para conjugar contemplação e ação, amor e senso prático, zelo pela justiça e coração piedoso, sem divisões artificiais que delimitariam qual parte do seu espírito deveria se manifestar na “vida pública”. O segredo da beleza da Irmã Dulce está descrito nas palavras de Juan Donoso Cortés, político e pensador espanhol do século XIX:
“Não sei de nenhum homem acostumado a conversar com Deus e a exercitar-se nas especulações divinas que, em igualdade de circunstâncias, não tenha vantagem em relação aos demais, seja por uma razão vigorosa e entendida, seja por um juízo sadio, seja por uma inteligência aguda e penetrante; e, sobretudo, não sei de nenhum deles que, em circunstâncias iguais, não tenha vantagem em relação aos demais naquele sentido prático e prudente que se chama de ‘bom senso’”.
“A ciência de Deus”, o costume de conversar com Deus, não são estranhos aos brasileiros, nem são obscurantismos que nos colocariam em desvantagem. Pelo contrário, são a terra fértil de onde nascem nossas melhores roseiras. Que deles brote, seguindo o exemplo da Irmã Dulce, o melhor do nosso senso prático, da nossa prudência e da nossa capacidade de realização.
Sob Deus e com os pobres,
A Comunhão Popular