Historicamente, as festas juninas remontam às festividades pagãs realizadas há centenas de anos na Europa, durante o solstício de verão, para afastar maus espíritos que ameaçassem as colheitas e comemorar a fertilidade da terra. Seguindo a máxima “examinai tudo, retende o que é bom”, a Igreja Católica, em respeito à cultura dos povos pagãos, incorporou as festividades ao seu calendário religioso. A partir de então, as festas juninas receberam elementos cristãos e novos significados, tornando-se uma forma de homenagear os três santos do mês de junho: Santo Antônio (dia 13), São João (dia 24) e São Pedro (dia 29).
No Brasil, elas chegaram em meados do século XVI, durante o processo de colonização, pois eram tradições muito populares na Península Ibérica. Desde o princípio, receberam influências das mais diversas: a dança marcada das quadrilhas é uma herança das danças de salão dos círculos nobiliárquicos franceses, os fogos de artifício vieram da China e as danças de fita são típicas em Portugal e Espanha. Ao receberem aportes das culturas indígenas e africanas, as festas juninas ganharam seus últimos contornos e alcançaram o ápice de riqueza e diversidade.
Da culinária às danças típicas, passando pelas brincadeiras e cantos populares, o folguedo se espraia pelos mais diversos campos, apresentando variações também de região para região, mas tudo sempre gira ao redor da fogueira. Além disso, é entre as línguas de fogo, os estampidos dos rojões, os afogamentos de Santo Antônio, os mastros das procissões e os céus repletos de balões coloridos, que religiosidade popular e superstição afloram e se misturam.
O folclorista Alceu Maynard Araújo dizia que o dia de São João, ápice do festejo, “é um dia santificado à moda brasileira: não se precisa ir à Igreja. A guarda desse dia é externada pela espera feita em casa, ou melhor, ao redor da fogueira. É a vigília que milhões de brasileiros religiosamente realizam, guardando a seu modo esse dia santificado.”
A Festa de São João marca bem a peculiaridade brasileira de ser uma “raça cósmica” e um “povo mestiço na carne e no espírito”, cuja missão e destino histórico, enquanto Terra de Santa Cruz, é propor um novo modelo de civilização fundado na fraternidade e no senso comunitário. Isso é belamente ilustrado pelo juramento que precede o salto da fogueira, selando o pacto do compadrio, pelos quais, nos rincões do país, os camponeses se aparentam como irmãos, por meio de laços afetivos. Ainda de acordo com o folclorista, “São João é festa de família, cimentadora da solidariedade vicinal. Quem está trabalhando fora vai para casa. (…) A alegria não escolhe classe social, ela invade o coração de todos. (…) No dia do ‘senhor São João’ no Nordeste (…), não se nega comida a ninguém, vizinhos e conhecidos pobres vão entrando nas chácaras, ou fazendas ou nas mansões e vão comendo de tudo o que há, sem que se faça distinção entre as pessoas”.
No entanto, as festas juninas também marcariam as profundas contradições do nosso povo. Por um lado, haveria uma aproximação entre pretos e brancos e classes sociais diversas durante a comilança e as brincadeiras de saltar fogueira, por outro, tal união não seria, historicamente, tão comum nas danças. Além disso, se é muito saudável a reprodução dessa manifestação popular por todo país, a verdade é que as comemorações nas cidades grandes costumam sinalizar que algo de valor se perdeu no modo de vida citadino. Os foliões fantasiados de caipira, no mais das vezes, são cópias caricatas do homem do campo – que vivencia este período com outra profundidade e sinceridade. Assim explica Alceu Maynard: “é que esta festa tem a imantação telúrica, pagã, que na cidade atrai o Carnaval, deslocando-o da influência axial natalina e, no meio rural, atrai para seu ciclo a do Divino Espírito Santo”.
Principal festa do solstício de inverno do nosso país, as festas juninas são, portanto, a manifestação cultural que mais bem expressa a riqueza e a complexidade do povo brasileiro e do “Brasil real”: alegre e criativo, profundo e religioso, miscigenado e comunitário. Nós, da Comunhão Popular, acreditamos, por tudo isso, que ela aponta não só para o passado como também para o futuro, servindo o seu espírito de modelo para restaurarmos a autoestima do nosso povo e desenvolvermos um conservadorismo autenticamente brasileiro.