Nos anos 70, espalhou-se pela América Latina uma nova compreensão da opção preferencial pelos pobres. A preferência de Deus pelos pequenos e fracos passou a ser vista não só como uma regra prática, a guiar nossas ações, mas também como um princípio teórico, para o pensamento. De fato, não basta apenas ajudar os pobres. É preciso pensar a partir deles, de sua condição e de suas necessidades. Eis aí a origem da Teologia da Libertação.
Muitos autores da TL, infelizmente, se encantaram pelo marxismo e acabaram abandonando a doutrina da Igreja. Em suas obras, a opção pelos pobres foi confundida com a luta de classes e o Evangelho com o Manifesto Comunista. Existiram, porém, grupos que não caíram nesse engano e mantiveram uma abordagem saudável, condizente com a tradição católica. Foi o caso da Teologia do Povo, que teve Rodolfo Kusch como um de seus maiores representantes.
Com uma abordagem menos econômica e mais culturalista, Kusch defendia que aquele que deseja pensar a partir dos pobres não pode se contentar apenas em denunciar as injustiças contra eles. Mais do que falar em nome do povo, é preciso imergir nele, encarnar-se nele, enraizar-se nele. Pensar a partir dos pobres significa incorporar seus valores, seus critérios, sua lógica, seus signos. Só aí então se poderá combater as injustiças sociais.
Diz o Papa Francisco, em “Fratelli Tutti”, que o povo não é uma categoria lógica, é uma categoria mítica – ou, conforme Kusch, um símbolo. Ele não é algo puramente intelectual, que se entende por raciocínios e argumentos. Trata-se de uma realidade bem mais profunda, que só se entende na medida em que se vive e participa dela. Frente à modernidade liberal, que prega um indivíduo sem vínculos, desconectado da comunidade, pensar com o povo exige esforço, mas é recompensador.
Por isso nosso nome é Comunhão Popular e valorizamos tanto a identidade nacional. Não idealizamos a cultura brasileira ou negamos seus vícios, mas estamos certos de que só quem vive enraizado no povo, sem medo de enfrentar suas contradições, pode ter o direito de representá-lo politicamente na caminhada rumo ao bem comum.