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A ORAÇÃO COMO PROBLEMA POLÍTICO

Para Marx, o ideal de uma sociedade comunista permitiria ao trabalhador “fazer uma coisa hoje e outra amanhã, caçar pela manhã, pescar pela tarde, à noite cuidar do rebanho, e fazer crítica social após o jantar”. No entanto, será isso o suficiente para satisfazer o coração do homem? Uma política que desconsidere a própria condição humana, com sua necessária abertura a Deus, poderá corresponder a suas exigências plenamente?

Para nós da Comunhão Popular, a perspectiva cristã não é uma mera opção pessoal dos nossos membros ou um sinal de moralismo retórico. Ao contrário. Trata-se do fundo mais fundo de nossa vida e pensamento, ainda, é claro, que não deixemos de cooperar com todos os não-cristãos que, a partir de suas próprias crenças, compartilhem das nossas posições quanto à vida pública.

Para nós, a perspectiva cristã estabelece um ponto de partida e uma meta, um começo e um fim. Dá-nos, aliás, os próprios meios. Alimenta uma orientação integral sobre a sociedade, a economia, a política e o próprio homem.

Frente ao fosso vigente entre o homem interior e o progresso da sociedade, o cardeal Jean Daniélou, em seu livro “A Oração como Problema Político”, afirmou: “A tarefa da política é assegurar aos homens uma cidade em que lhes seja possível realizar-se plenamente, ter uma vida material, fraterna e espiritualmente plena. É por isso que consideramos que, na medida em que exprime esta realização pessoal do homem numa dimensão particular, a oração é um problema político; pois uma cidade que tornasse a oração impossível deixaria de cumprir seu papel de cidade”.

Da mesma forma, durante as prévias das eleições americanas de 2016, o republicano Marco Rubio, senador pela Flórida e pré-candidato à presidência, foi questionado a respeito da relevância de uma de suas inserções de campanha, que destacava exclusivamente o fato do senador ser um “homem de fé”, cristão, católico. O senador então respondeu que seria do melhor interesse do eleitor saber que sua religião lhe obrigava a dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, vestir os nus, dar abrigo a quem não o tem, cuidar dos doentes e presos, enterrar os mortos.

Certamente, o que o senador acredita ser necessário para melhorar a vida dos pobres é bem diferente da visão da Comunhão Popular, afinal, ele é mais liberalizante em economia. Contudo, não podemos deixar de olhar positamente para a sua afirmação. A construção de uma sociedade na qual o “problema político” da oração seja atendido, não nasce – nem pode nascer – de uma ação cujo próprio horizonte esteja aquém da compreensão do que é o homem. Só pode nascer, na verdade, da própria oração.

Assim, a oração constitui a força movente do cristão na pólis. Concluindo novamente com Daniélou: “Se ao menos o cristão entendesse que ao servir à ‘cidade terrena’ ele serve a Deus e seus irmãos, e que quando trabalha pela construção dessa cidade move-se em direção à eternidade! Poderia de fato viver as palavras de Jesus: ‘quem dá de beber a um desses pequeninos é a mim que o dá’. E estaria no processo de salvar a sua alma, ao assumir essas mesmas palavras em um sentido mais amplo, indo para além dos atos individuais de caridade, em direção àquela moderna forma de caridade que consiste essencialmente nos serviços da civilização através de suas instituições.”

Sob Deus e com os pobres,

A Comunhão Popular

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