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TRANSFORMAR A EDUCAÇÃO PASSA PELA FAMÍLIA

É muito preocupante, hoje, o baixíssimo grau de participação dos pais na educação dos próprios filhos. Como sempre dizemos em nossas publicações, a Comunhão Popular sabe que é ao pai e à mãe que cabe, por direito natural, a primazia na educação das novas gerações. Nada mais justo do que aqueles que deram a vida aos rebentos também terem o cuidado principal da sua formação. Contudo, infelizmente, não é isso que se observa no nosso sistema educacional. Por múltiplas razões, aliás.

De um lado, os próprios pais, desorientados e despreparados, muitas vezes se comportam de forma negligente. Seja por desinteresse, seja pela sobrecarga com a vida de trabalho, acabam terceirizando completamente a educação para a escola. De outro, o próprio sistema escolar frequentemente trata os responsáveis das crianças de maneira errada, ou como simples clientes ou como figuras decorativas. Cria-se assim um ciclo vicioso, no qual a indiferença de uns se alimenta da hostilidade de outros, e vice-versa. E as consequências são trágicas, ainda que de diferentes maneiras.

No ensino particular, majoritariamente, oferece-se a educação como se fosse mero objeto de transação financeira. Idealmente, o aprendizado escolar deveria ser o fundamento para a vida: há de se aprender, em primeiro lugar, os valores éticos e sociais; o currículo-base das diversas disciplinas, facilitando a compreensão do mundo; a capacidade de ser autônomo e responsável em ação e pensamento; e, por consequência, a preparação para o mercado de trabalho e a vida cívica. Mas, na prática, muitos centros escolares negligenciam esses aspectos fundamentais e promovem um adestramento enciclopédico voltado ao vestibular.

No ensino público, salvo honrosas exceções, os pais, quando muito, comparecem em festas juninas, assinam documentos que permitem as crianças irem em excursões e conferem se as notas dos filhos não estão baixas. Todo o resto, porém, é delegado para a instituição escolar. Além disso, problemas mais profundos, como a presença de tráfico de drogas nas escolas, crescem fácil diante da dispersão de forças para os enfrentarem.

A Comunhão Popular deseja urgentemente reverter esse cenário. Essa mudança requer, antes de tudo, uma transformação de mentalidade da parte de todos os envolvidos, mas exige também uma profunda reforma institucional. Queremos maior voz dos pais na pedagogia escolar, investidos do seu direito natural. E cremos que a melhor forma de alcançar esse objetivo, para além de uma ampla campanha de conscientização, é por meio da estruturação e do fortalecimento das “associações de pais e mestres”, isto é, de organismos que unem a família e o corpo docente.

Propomos que o governo pedagógico dos centros escolares, em especial dos públicos, seja misto, composto por pais e professores, em um corpo de assembleia associativa. Desta forma, ambos os grupos vão participar da deliberação e da coordenação pedagógica, revisando o modo de aplicação dos currículos escolares, bem como definindo os objetivos e caminhos da instituição. Problemas práticos, como acusações de “doutrinação ideológica” ou de mau comportamento dos alunos, seriam resolvidos assim de forma muito mais rápida e orgânica, sem polemismos vazios.

Para além dos aspectos estritamente pedagógicos, há muitos outros potenciais na aproximação das famílias com a escola. As associações de pais e mestres poderiam facilitar, por exemplo, o acesso das famílias a direitos como vacinação e assistência social, bem como promover o diálogo na comunidade local. Seria possível, desta forma, fortalecer, a interação entre a escola e os CRAS (Centros de Referência de Assistência Social) e os CREAS (Centros de Referência Especializado de Assistência Social).

Um modelo similar ao que propomos é o da legislatura do Estado americano de Louisiana: em 1991, estabeleceu-se que toda escola deveria contar com seus “parental advocates”. Estes são nada menos que representantes dos pais no âmbito escolar. Na lei de Louisiana, é selecionado um “advocate” para cada escola. A medida facilitou a parceria pais-escola, aumentou o envolvimento e participação paterna no ensino e vida escolar dos filhos, possibilitou um canal para se dar ouvidos às reclamações dos pais e para ser uma ponte entre os dois lados.

Ao propor a valorização das associações de pais e professores, queremos incentivar soluções novas, que promovam um encontro de partes diferentes. Negar a necessidade de cooperação harmônica entre os dois lados é recair no equívoco de deixar apenas ao Estado ou à instituição de ensino todas as competências para formação educacional, criando um distanciamento inaceitável em relação à família e à sociedade. Desejamos a cooperação, a fraternidade e a unidade no diverso. Nunca endossamos o antagonismo de grupos, pregamos o vínculo. Aqui, o vínculo dos profissionais da educação com os pais, que são os educadores primeiros.

Sob Deus e com os pobres,

A Comunhão Popular

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