Em homilia na Capela de Santa Marta, em 21 de novembro de 2017, o papa Francisco denunciou com vigor as “colonizações ideológicas e culturais”. Disse que estas introduzem “más novidades, chegando até a considerar normal matar as crianças ou perpetrar genocídios para anular as diferenças, procurando fazer tábula rasa de Deus com a ideia de ser ‘modernos’ e ao passo com os tempos”. Em especial, afirmou que “a modernidade é uma verdadeira colonização cultural, uma autêntica colonização ideológica”. Em outra ocasião, o Sumo Pontífice, reiterou que as colonizações ideológicas “desprestigiam o valor das pessoas, da vida, do casamento e da família e fazem mal com propostas alienantes, tão ateias como no passado, especialmente a nossos jovens, deixando-os desprovidos de raízes para crescer”.
É curioso notar a profunda coincidência de ideias entre o que diz o Papa Francisco e aquilo que ensina o escritor inglês Paul Kingsnorth (1972 –). Referindo-se ao que chama de “colonialismo interno”, Kingsnorth afirma que, hoje, são usados contra o próprio Ocidente os mesmos métodos perversos que as autoridades coloniais ocidentais usaram no passado para destruir as culturas dos povos colonizados: reescrever histórias, substituir línguas, desafiar normas culturais, banir ou demonizar religiões, desmantelar sistemas ancestrais e diminuir tradições. A nova colonização – progressista, abortista, adepta de “ideologia de gênero” – gosta de pregar a demolição do colonialismo passado, mas não passa de uma nova versão dele. Está de mãos dadas com o grande capital e virou uma espécie de redenção ideológica do neoliberalismo. Seu resultado, segundo Kingsnorth, é uma “cultura de inversão”, em que o puro desejo de destruição passa a ocupar o lugar de honra, sem que nada de autêntico sobre para o ser humano.
Ora, na prática, quem é que sai perdendo com o avanço da colonização ideológica? Todos, sem dúvida, mas em especial os pobres. E todos os tipos de pobres, aliás. Os desprovidos de bens materiais, em primeiro lugar, mas também as demais pessoas e grupos que se encontram relegadas às diferentes periferias sociais e existenciais – colocadas à margem, descartadas ou desprezadas e que não têm meios de resistir ao rolo compressor em curso.
O projeto da colonização ideológica é acima de tudo um esforço de desenraizamento. As grandes corporações econômicas e os movimentos ideológicos progressistas não veem sentido ou valor nas tradições dos povos. Para eles, a pessoa humana é simplesmente um átomo, um eu isolado e independente, um consumidor, que deve ser integrado ao mercado global de produtos e estilos de vida. Pertencem, portanto, ao grupo dos novos excluídos pelo sistema todos aqueles que os novos colonizadores julgam descartáveis – seja porque estão excessivamente apegados aos seus valores, seja porque não têm grande serventia econômica. São assim as crianças indesejadas nos ventres das mães, os portadores de deficiência, as vítimas de transtornos mentais, os idosos, os moradores de rua, os povos indígenas, os habitantes de territórios ocupados pelo crime organizado.
Mas a lista dos novos excluídos não cessa por aí. O colonialismo ideológico também oprime o trabalhador precarizado, “terceirizado”, “de aplicativo”, que é obrigado a se autoexplorar até a exaustão. Oprime a adolescente, cujo corpo é tratado como carne no açougue, a ser vendido e prostituído – a prostituição é sempre parceira do colonialismo. Ele oprime o jovem, instigado a se entregar a todo tipo de vício e a aprender que ser homem é ser “mau”. Oprime, acima de tudo, a família, instituição natural que é o principal foco de resistência a essa terrível força destrutiva. Não à toa, ao redor de todo o mundo, milhões de pais e mães, constrangidos pela necessidade de correr atrás do pão de cada dia, são forçados a terceirizar a educação dos filhos para escolas “coloniais”, alienada das vidas das famílias e povos.
Para o novo colonialismo, o inconveniente de todas essas pessoas e grupos é eles simplesmente existirem. Quando muito, há um esforço de instrumentalizá-los em defesa de interesses específicos, mas apenas para sequestrar suas preocupações e usá-las como bandeira de conveniência. Infelizmente, os oprimidos reais não são aqueles que o sistema quer defender. E, no entanto, se o amigo leitor acompanha com atenção o trabalho da Comunhão Popular, percebeu que os novos excluídos do século XXI são justamente o foco de atenção de todos os nossos textos e atividades. Obviamente, isso não é por acaso.
Conforme ensina o Papa Francisco, contra a colonização ideológica, “que muitas vezes aconteceu ao longo da história, há um só remédio: o testemunho, isto é, o martírio.” Para uns poucos, este martírio será literal, do sacrifício da vida até à morte, “pensando no futuro, na herança que deixarei com o meu exemplo”. Para a grande maioria, porém, o grande martírio será o testemunho cotidiano e ordinário da verdade, no interior da vida concreta: “vivo desta maneira. Dialogo, sim, com os que não pensam como eu, mas o meu testemunho é desta forma, segundo a lei de Deus, segundo o que Deus me concedeu”.
Por tudo isso, seguindo as diretrizes do Santo Padre e atenta aos sinais dos tempos, a Comunhão Popular lutará sempre, até o fim de seus dias, por todas as vítimas da nova colonização. Denunciaremos a pobreza, as injustiças sociais, as depravações de costumes e os contrabandos ideológicos. Defenderemos a família natural, o direito à vida desde a concepção, a valorização da fé, a centralidade da família na educação dos filhos, o fortalecimento das comunidades e o direito do trabalhador ao seu sustento digno. Com nosso testemunho e pela força da graça de Deus, resistiremos ao novo colonialismo.
Sob Deus e com os pobres,
A Comunhão Popular