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DESIGUALDADE

Muitos católicos têm por hábito fazer uma defesa bastante seletiva da Doutrina Social da Igreja. Pega-se da DSI o que convém, de acordo com as próprias preferências ideológicas, e joga-se fora o que não agrada tanto. Essa postura de conveniência é especialmente clara quando se trata do tema da desigualdade social.

Qualquer leitor interessado, por exemplo, encontrará facilmente, pela internet, fartas citações de documentos da Igreja condenando o igualitarismo. Leão XIII, por exemplo, afirma em “Rerum Novarum” que “é impossível que na sociedade civil todos sejam elevados ao mesmo nível” e que, ainda que este seja o desejo dos socialistas, “contra a natureza todos os esforços são vãos”.

Ora, é evidente que este ensinamento é verdadeiro. A desigualdade social, em muitas circunstâncias, não apenas é inevitável, como também é justa – seja porque premia os talentos e habilidades especiais de alguns indivíduos, seja porque recompensa o mérito daqueles que se esforçaram por seu sucesso. Estava correto, portanto, o Santo Padre quando dizia, de modo geral, que foi a própria natureza humana quem “estabeleceu entre os homens diferenças tão multíplices como profundas” e que dela “nasce espontaneamente a desigualdade das condições”.

A grande questão, porém, é que há desigualdades e desigualdades. O fato de a Igreja condenar o igualitarismo não significa que ela aprove toda distribuição desigual de riqueza. Uma coisa é uns terem mais e outros terem menos, mas ambos com o básico para viver. Coisa completamente diferente é o que se vê no sistema capitalista, no qual uns poucos privilegiados nadam em riquezas quase ilimitadas, enquanto a ampla massa da população mal consegue sobreviver.

Conforme ensinou São Óscar Romero, padroeiro da Comunhão Popular, “Muitos gostariam que o pobre sempre dissesse que é ‘vontade de Deus’ que ele assim viva. Mas não é vontade de Deus que uns tenham tudo e outros não tenham nada. Não pode ser de Deus. De Deus é a vontade de que todos os seus filhos sejam felizes”.

Acabar com as desigualdades, portanto, não. Mas lutar por sua drástica redução? Com toda a certeza!

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