Ontem, 17 de julho, foi celebrado o Dia de Proteção das Florestas. No nosso Brasil, em que a “mata”, mesmo machucada, está presente na vida de todos, é uma data pouco conhecida. A associação com o Curupira, apesar da simpatia do brasileiro pelo folclore, tampouco contribui para conferir a seriedade necessária para a questão. A despeito disso, a proteção das florestas é, na verdade, um dos maiores e mais urgentes desafios para o futuro do país.
A rebelião contra Deus se manifestou em uma rebelião contra a criação, contra toda a natureza, humana e selvagem. Nos dizeres do papa Francisco na encíclica “Laudato Si”, “não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise socioambiental. (…) Se a crise ecológica é uma expressão ou uma manifestação externa da crise ética, cultural e espiritual da modernidade, não podemos iludir-nos de sanar a nossa relação com a natureza e o meio ambiente sem curar todas as relações humanas fundamentais.” Defender a vida humana, combater a pobreza, combater a desumanização, rejeitar a ideia de que o ser humano é uma praga e desempenhar, finalmente, o papel de guardião e cultivador da Criação, requerem mudança. As soluções não sairão do sistema capitalista liberal-consumista, vicioso, orientado para a futilidade, com todos sonhando em trocar de carro e de guarda-roupas todos os anos.
O Brasil tem lugar especial nessa mudança. É parte indissociável do nosso projeto civilizacional construir uma relação sustentável com os biomas tropicais, em especial com a Floresta Amazônica, e com o meio ambiente em geral. Não só porque é isso é certo, não só porque a identidade brasileira está profundamente associada à “terra”, não só por abrigarmos mais de 30% da biodiversidade da Terra e a maior floresta tropical do mundo, mas porque transformaremos o país em um inferno sem isso. Mais que quente, um inferno sem água – e, portanto, sem agricultura – e sem vida. Independentemente de hipocrisias e impropriedades das pressões estrangeiras, o Brasil não tem opção melhor.
Inexiste modelo pré-concebido para enfrentar esse desafio. Se olharmos os caminhos tomados pelos europeus, pelos EUA, pelos países asiáticos, pela Rússia, nada disso nos serve. Todos estão apoiados em cimento, aço, plástico e amônia, extraídos de forma predatória para satisfazer desejos – confundidos com “necessidades” -, na expectativa de que surgiria adiante uma solução para os danos que provocaram. Foram os principais responsáveis pelas causas humanas do aquecimento global. A replicação desse modelo no Brasil manterá nosso povo pobre e tornará nosso país feio, estéril e descaracterizado.
O Brasil do futuro precisa ser uma “potência ambiental”, mas isso deve ser consequência de uma visão maior. A civilização brasileira deve ser um projeto de interação salutar do homem com a Criação. Terá que reconstituir matas ciliares, chegar a um ponto de equilíbrio no uso de agrotóxicos e fertilizantes, proteger encostas e encontrar lares dignos para seus atuais moradores, estruturar cuidadosamente seus projetos de exploração mineral, desenvolver uma bioeconomia forte, preservar florestas intocadas e encontrar novas vocações para outras, de modo a dar vida digna às comunidades locais. Para tanto, terá também que se defender de seus inimigos de sempre: predadores nativos e estrangeiros, interessados em exportar rapidamente nossas riquezas, deixando atrás um rastro de destruição.
Não se faz isso sem um profundo sentido popular de missão, que ainda está por despertar. Os esforços envolvendo economia de escala, desenvolvimento de tecnologias e presença do Estado em regiões remotas são imensos, mas não são optativos. Requererão, em primeiro lugar, a redescoberta do sentido profundo da “oikofilia”, o amor pela morada, tão falado por Roger Scruton em sua “Filosofia Verde”. É preciso uma alternativa à transformação da Criação, do lar concebido por Deus para o homem, em uma Máquina de satisfazer “necessidades”. E cabe ao Brasil ser o país que vai construir essa alternativa.
Sob Deus e com os pobres,
A Comunhão Popular