Filósofo e historiador católico, o mineiro João Camilo de Oliveira Torres tornou-se, nos últimos anos, uma referência intelectual da direita conservadora brasileira. Monarquista convicto e autor de obras seminais como “Os Construtores do Império” e “A Democracia Coroada”, o escritor é visto por muita gente como um Russell Kirk ou Roger Scruton dos trópicos.
O que pouco se fala, porém, é que, ao mesmo tempo em que era adepto do conservadorismo como doutrina moral e política, João Camilo foi, nas questões socioeconômicas, um grande defensor de profundas reformas sociais. Para ele, assim, como para a Comunhão Popular, não há qualquer contradição entre proteger os valores da lei moral natural e assumir a causa dos pobres e dos trabalhadores. Pelo contrário. Uma coisa exige a outra.
Quando o padre Ávila, um dos grandes ícones da CP, lançou seu livro “Solidarismo”, Oliveira Torres se identificou de imediato e passou a se apresentar publicamente como um solidarista. Tal como o sacerdote jesuíta, ele estava convencido de que só uma economia comunitária, nem capitalista nem socialista, pode solucionar a questão social. Além disso, também foi um dos articuladores de uma proposta de reforma agrária no Brasil: o Estatuto da Terra, que previa a função social da propriedade rural como forma de promoção do desenvolvimento econômico.
O mais extraordinário contraste, aliás, entre o autor mineiro e os seus admiradores de hoje, não são as ideias econômicas que ele apoiava, mas os governos concretos da sua predileção. Sempre que ia dar exemplos das administrações que mais se aproximavam do ideal de economia solidária, Oliveira Torres não citava governos liberais, mas sim duas experiências marcademente de esquerda: o trabalhismo britânico e a socialdemocracia sueca. E citava com gosto, listando as conquistas delas, muito pela sua própria experiência como superintendente regional do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS)
Se estivesse vivo hoje, João Camilo estaria, pois, com toda a certeza, entre os entusiastas da Comunhão Popular.