Hoje, 26 de julho, comemoramos o Dia dos Avós. Essa data foi escolhida por coincidir com a memória litúrgica de Sant’Ana e São Joaquim, nomes dos avós maternos de Jesus, conforme a tradição cristã. Em 2021, a Igreja Católica instituiu o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, ampliando para todo o mundo uma comemoração que é comum em países como Brasil e Portugal. Que reflexão podemos tirar dessa data?
Ora, um dos maiores males do mundo contemporâneo é aquilo que o Papa Francisco acertadamente chama de “cultura do descarte”, um tipo de mentalidade na qual “as pessoas já não são vistas como um valor primário a respeitar e tutelar, especialmente se são pobres ou deficientes, se ‘ainda não servem’ (como os nascituros) ou ‘já não servem’ (como os idosos)” (Fratelli Tutti, 18). Basta visitar um asilo para confirmar essa realidade triste. Muitas famílias enxergam seus idosos apenas como um fardo, um obstáculo. A consideração pela pessoa e por sua sabedoria acumulada ao longo dos anos dá lugar ao descarte. Em alguns países, essa rejeição dos mais velhos chega ao ponto de se propor como “saída” a eutanásia, isto é, o assassinato. Desaparece, assim, a figura venerável do “ancião” e tornam-se atuais os clamores do salmista: “Na minha velhice, não me rejeiteis! Ao declinar de minhas forças, não me abandoneis!” (Sl 70,9).
O contexto da pandemia agravou essa situação. As pessoas de terceira idade, como pertencem ao grupo de risco, ficaram ainda mais vulneráveis, tanto ao vírus quanto ao abandono. Muitos, por precaução, passaram longos meses sem nenhum tipo de contato físico com seus entes queridos e outras pessoas de seu entorno. Outros também ficaram sem contato, mas porque a situação sanitária era agora mais um motivo para esquecê-los.
Evidentemente, são inúmeras as realidades das famílias brasileiras. Há casos em que a as longas jornadas de trabalho impossibilitam uma dedicação aos pais e avós, cujos cuidados são então delegados a terceiros por falta de alternativa. Em outras situações, os idosos estão plenamente integrados à vida familiar e acabam, inclusive, sendo o único apoio disponível para o cuidado dos netos. Em outros casos ainda, quando a aposentaria é a única renda fixa da vida doméstica, a pessoa de terceira idade é a chefe de família. Seja como for, independentemente do cenário, é preciso guardar sempre aquela verdade fundamental: as pessoas humanas, jovens ou velhas, saudáveis ou doentes, fáceis de conviver ou cabeças-duras, valem por si mesmas, por sua dignidade intrínseca, não pela sua utilidade.
É dos mais velhos que aprendemos as tradições e os bons valores. Das orações populares até as histórias de vida, muitas vezes cheias de sofrimento, o “capital” gerado por eles é mais valioso que aquele dos bancos. Por isso mesmo, é importante que se estabeleçam espaços de escuta e poder para a terceira idade. Diante dos problemas comunitários, por exemplo, como os de vizinhança, os idosos podem propor soluções com base na sua própria experiência de vida. Isso garante o fortalecimento da sociedade civil e permite uma justa descentralização da ação do poder público, tantas vezes falho na adoção de medidas coerentes com a realidade de determinado bairro ou comunidade.
Não é justo que aqueles que se doaram tanto durante toda a vida sejam desprezados. Nesse sentido, para os mais velhos, o acesso a serviços de saúde de qualidade, além de ser um direito natural que vale para todos, é uma forma de retribuição. Os profissionais envolvidos têm que fornecer um bom atendimento, com paciência e compreensão, e os recursos técnicos dos hospitais devem favorecer a acessibilidade. A mesma acessibilidade, aliás, deve estar presente também no sistema bancário, hoje tão afoito em fazer ofertas de empréstimo associadas às aposentadorias, mas incapaz de criar processos que protejam os mais velhos de golpistas e estelionatários. Por fim, a educação das crianças e dos jovens, tanto nas escolas públicas quanto nas particulares, deve salientar o respeito aos mais velhos, característica que temos perdido enquanto sociedade.
No quarto princípio de seu manifesto fundador, a Comunhão Popular afirma ter um compromisso radical com a defesa de todos aqueles que se encontram excluídos e marginalizados. Por isso, estamos hoje e estaremos sempre junto aos idosos. Contra a cultura do descarte, lutamos pela cultura do cuidado!
Sob Deus e com os pobres,
A Comunhão Popular.