Ariano Suassuna sempre se declarou, desde a juventude, um homem de esquerda. Foi filiado por décadas ao Partido Socialista Brasileiro (PSB) e inclusive nomeado presidente de honra da agremiação. Além disso, exerceu a função de secretário de cultura nos governos estaduais de Miguel Arraes e Eduardo Campos.
Ao mesmo tempo, Ariano era também um católico devoto, e sua fé era um traço profundo de todo o seu pensamento. Estudioso da filosofia de Santo Tomás de Aquino, que tomou como maior referência em seu livro “Iniciação à Estética”, conhecia como poucos a Doutrina Social da Igreja. “A minha visão política tem substrato religioso”, dizia ele, que, não à toa, guardava profundo apreço pelo tradicionalismo político ibérico e monárquico.
O “socialismo” que Suassuna defendia, portanto, não é aquele que defende o fim da propriedade privada e que é condenado pela Igreja. Na verdade, “socialismo”, em seu pensamento, é muito mais um nome fantasia para um apelo generoso por amplas reformas no sentido da justiça social. Reformas, aliás, precisamente como aquelas que propõe a Comunhão Popular, ainda que nós não sejamos socialistas.
Não por acaso, foram frequentes os conflitos do escritor nordestino com os comunistas brasileiros. “Quando eu denunciava o imperialismo americano e me batia contra a exploração americana no Brasil, eles batiam palma para mim” – dizia ele – “Mas quando eu dizia que o stalinismo era uma ditadura horrorosa, assassina, era considerado vendido aos americanos, a Wall Street”. E arrematava: “Eu sempre denunciei as duas coisas.”
Ariano era especialmente crítico para com os católicos que se mostravam condescendentes com os erros do comunismo – “uns por oportunismo, outros pelo medo ridículo de passarem por reacionários”. Diferentemente da violência revolucionária pregada pelo materialismo histórico, dizia ele: “Minha ideia de socialismo é baseada numa visão de justiça e fraternidade”.