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EDITH STEIN E A DOUTRINA SOCIAL DA IGREJA

A visibilidade das mulheres deve se basear não somente na justa denúncia e reparação da desigualdade de gênero, mas sobretudo na valorização positiva do trabalho, virtude e obras notáveis pelas quais mulheres lutaram e deram a vida. Um desses casos é o da filósofa Edith Stein (1891-1942), que morreu mártir num campo de concentração sob o regime nazista.

Edith Stein foi uma das primeiras mulheres na Alemanha a se doutorar em Filosofia, lutou pelo sufrágio universal junto a movimentos feministas, interrompeu temporariamente os estudos para trabalhar de enfermeira na Cruz Vermelha durante a Primeira Guerra e converteu-se do ateísmo ao cristianismo por meio da fenomenologia. Por causa da perseguição nazista, Stein perdeu o cargo, que dividia com Martin Heidegger, de assistente de Edmund Husserl. Após uma leitura arrebatadora dos escritos de Santa Teresa D’Ávila, decidiu entrar para a ordem carmelita, tomando o nome de Teresa Benedita da Cruz. Cruz abraçada por ela no martírio numa câmara de gás em Auschwitz, não sem antes enviar uma carta suplicando ao Papa Pio XI uma condenação pública ao nazismo e à perseguição do povo judeu na Alemanha (pedido que foi atendido).

Essa vida extremamente ativista nunca foi empecilho para a profunda reflexão. Ela é autora de uma vasta obra filosófica e teológica. Sua vida e obra é tão significativa e exemplar que foi canonizada e se tornou uma das padroeiras da Europa. Além disso, seu pensamento foi fonte de inspiração para o Papa João Paulo II e, consequentemente, para os ensinamentos atuais da Igreja acerca da dignidade da pessoa humana, ponto central da doutrina social cristã.

Em “Ser Finito e Ser Eterno”, Edith Stein apresenta o ser humano como um microcosmo, que agrega em si a natureza vegetativa e a natureza animal, ou seja, se nutre, se move e é dotado de sentidos. Além desses aspectos biológicos, porém, a vida humana é dotada também de um aspecto infinitamente maior, que se mostra aos semelhantes como uma vida determinada livremente pela consciência de um “eu”. A vida humana emana do “eu” em duplo sentido: num fenômeno de autorreflexão, em que toma consciência de si próprio como uma vida separada de tudo o mais; e como um “eu” capaz de autodeterminação “para moldar livremente essa vida”. É nesse ponto que a investigação natural se une em consonância à doutrina revelada: a constituição psicofísica do ser humano, por ser dotada de razão e livre determinação da vontade, é imagem e semelhança do próprio Deus. É a partir dessas características de autoconsciência e autodeterminação que é extraída a ideia de dignidade humana, presente nas encíclicas pós-conciliares e na doutrina Social da Igreja.

É a Filosofia que permite que a Doutrina Social da Igreja não se restrinja aos crentes que a ela aderem sob a luz da fé, mas que se estenda a todos os homens de boa vontade, crentes ou não, convidados a averiguar, por meio das luzes naturais da razão, a plausibilidade de uma filosofia social à luz dos valores cristãos. Além disso, afirma o Compêndio da Doutrina Social da Igreja que a Filosofia é indispensável para a reta compreensão de conceitos como “pessoa, sociedade, liberdade, consciência, ética, direito, justiça, bem comum, solidariedade, subsidiariedade e Estado” (§ 77). Todos esses conceitos receberam grande contribuição da filósofa e santa.

Nós, da Comunhão Popular, acreditamos que a ação política deve estar enraizada numa reflexão filosófica, e que todas as ciências são essenciais para a construção de uma sociedade mais justa. Se você, a exemplo de Edith Stein, quer contribuir para essa reflexão com frutos práticos, junte-se a nós!

Sob Deus e com os pobres,

A Comunhão Popular

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