Para Karl Marx, grande pai teórico do comunismo, “A história de todas as sociedades existentes até hoje é a história da luta de classes.”
Segundo essa lógica, o grande motor da vida social é o conflito de classes, a luta entre grupos econômicos distintos. Uns são exploradores, outros explorados; uns são opressores, outros são oprimidos.
Será que esta compreensão é verdadeira? Certamente que não.
Existem outros fatores, além da economia, que afetam decisivamente o curso da história: os valores culturais, o sistema político, as escolhas dos indivíduos, e, sobretudo, a Providência divina, que a tudo governa. Além disso, é um grave erro encarar as relações econômicas como interações necessariamente opressivas, excludentes e injustas.
Ainda assim, a Doutrina Social da Igreja (DSI) reconhece que a sociedade em que vivemos, organizada em um sistema capitalista, é marcada por uma enorme e injusta desigualdade social. Essa desigualdade cria uma série de opressões e coloca as classes sociais umas contra as outras – ainda que elas, por natureza, devessem cooperar.
Como, então, encontrar um equilíbrio na análise? Como denunciar as opressões econômicas sem cair na tese marxista da luta de classes?
Em “Rerum Novarum”, documento fundador da DSI, publicado em 1891, o Papa Leão XIII trata desse assunto com muita sabedoria, e nos dá uma rota preciosa.
“A influência da riqueza nas mãos dum pequeno número, ao lado da indigência da multidão”, diz o papa, “deu em resultado final um temível conflito” e “os trabalhadores, isolados e sem defesa, têm-se visto, com o decorrer do tempo, entregues à mercê de senhores desumanos e à cobiça duma concorrência desenfreada.”
“A violência das revoluções políticas dividiu o corpo social em duas classes e cavou entre elas um imenso abismo”, continua “Rerum Novarum”.
“De um lado, a onipotência na opulência: uma facção que, senhora absoluta da indústria e do comércio, desvia o curso das riquezas e faz correr para o seu lado todos os mananciais; facção que, aliás, tem na sua mão mais de um motor da administração pública. Do outro, a fraqueza na indigência: uma multidão com a alma dilacerada, sempre pronta para a desordem.”
Apesar disso, a luta de classes não é o motor principal da história humana, adverte Leão XIII:
“O erro capital na questão presente é crer que as duas classes são inimigas natas uma da outra, como se a natureza tivesse armado os ricos e os pobres para se combaterem mutuamente num duelo obstinado. Isto é uma aberração tal, que é necessário colocar a verdade numa doutrina contrariamente oposta. As duas classes estão destinadas pela natureza a unirem-se harmoniosamente e a conservarem-se mutuamente em perfeito equilíbrio: não pode haver capital sem trabalho, nem trabalho sem capital.”
A luta de classes não é parte necessária e inevitável da História, mas temos que reconhecer os desequilíbrios gerados pela injustiça social. Só assim combateremos de fato a sedução do marxismo: enfrentando as opressões que sofrem os trabalhadores e que fazem com que tantos se deixem iludir por ideias erradas.
Contra a luta de classes, o que nos cabe não é defender o capitalismo, mas sim a economia comunitária, pautada no salário justo, na difusão e acesso à pequena propriedade e no incentivo à participação dos trabalhadores na vida das empresas.