Nas antigas sociedades europeias, quando um rei queria imortalizar seus feitos e realizações, ele contratava um bardo. Mistura de músico, historiador, genealogista e poeta, o menestrel ia então, a soldo do governo, e desembestava a criar versos, a compor músicas em que entoava e louvava a história do seu povo. Era uma síntese de verdade e mito, de história e ficção, de relato e lenda. Talvez por isso tenhamos nos acostumados a acreditar que todo grande empreendimento começa de uma forma grandiosa, que todo projeto de Deus se inicia num prodigioso milagre. Mas nem sempre assim.
Exatamente um ano atrás, no dia 12 de Novembro de 2021, surgia a primeira semente do que viria a ser a Comunhão Popular. Bem longe de um evento extraordinário, a coisa, na verdade, começou de modo bem simples.
Naquele dia, nosso presidente, Pedro Ribeiro, que já há anos se dedicava a difundir a Doutrina Social da Igreja pelas redes sociais, resolveu fazer um post diferente – não teórico, mas prático. Relatou a iniciativa do economista católico Stefano Zamagni, presidente da Pontifícia Academia de Ciências Sociais, e de como ele vinha liderando a formação de um novo partido na Itália: o “Insieme” (“Juntos”, em tradução livre).
Pedro denunciou a vergonha daquele fato. De como era constrangedor ver um senhor septuagenário metendo as mãos na massa, disposto a levar a DSI para a prática, enquanto, em nosso país, multidões e multidões de cristãos se contentam apenas em recitar os ensinos sociais do Evangelho, sem jamais encarná-los na política.
“A pergunta é: quando surgirá o Juntos brasileiro?” – perguntava o post – “Quando é que nós, cristãos trabalhistas e solidaristas, vamos pegar a mão na massa e organizar um movimento político concreto?” E continuava: “Quem vem junto? Quem está disposto a se mobilizar num projeto de longo prazo, que vai demandar sacrifício, disciplina e organização, que vai impor bem mais que interações de Facebook?”
A resposta não poderia ser mais surpreendente. Em poucos dias, dezenas de pessoas se apresentaram e se dispuseram à construção da Comunhão Popular. Dentre estes primeiros interessados, alguns com o tempo se afastaram da iniciativa, mas outros tantos chegaram depois e, agora, exatamente um ano depois, estamos aqui, firmes e fortes.
A Comunhão Popular é um projeto de Deus. Sabemos que esta afirmação soará petulante aos ouvidos de alguns, mas esta, sinceramente, é nossa convicção mais funda, diante do Pai.
Não temos padrinhos políticos, não temos patrocinadores nem amigos poderosos. Ao contrário, em nossa breve existência, atraímos perseguidores, cansaços e incompreensões. Somos todos trabalhadores, pais e mães de família, com suas obrigações profissionais e domésticas, dedicando o escasso tempo que temos livre a um projeto que humanamente tem todos os motivos para fracassar. Pois rema contra a maré, pois foge da polarização fácil, pois se recusa a instrumentalizar a fé e a coagir consciências. Mas por quê? Por que essa loucura? Porque cremos fielmente que este é um chamado de Deus para nós, é algo que Ele nos pede concretamente.
Não sabemos o que o Senhor quer fazer da Comunhão Popular. Talvez Ele não queira que sejamos mais do que aquilo que somos hoje: um pequeno grupo de amigos, com limitada repercussão, mas que, no seu pequeno espaço, buscam sinceramente ser luz de Cristo. Se é isso apenas que Deus quer de nós, que seja. O que podemos dizer é que permaneceremos à sua disposição, com todas as nossas misérias e pecados, enquanto Ele nos mandar.
O governador Franco Montoro sempre repetia uma frase atribuída a Dom Hélder Câmara: “sonho que se sonha sozinho é apenas um sonho. Sonho que se sonha junto é o começo de uma nova realidade”. Aos amigos que nos acompanham, pedimos apenas que sonhem conosco. Em particular, que coloque sempre diante do Senhor, em oração, o nosso movimento, a fim de que Deus seja tudo em todos.
Sob Deus e com os pobres,
A Comunhão Popular.