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A COPA DO MUNDO E A CULTURA DO ENCONTRO

Hoje, o Brasil estreia na Copa do Mundo. Torceremos pela nossa seleção que vai em busca, mais uma vez, da maior glória do futebol: erguer o troféu de campeão mundial!

Não há dúvidas que o futebol é o jogo do mundo. Mais de 5 bilhões de pessoas ao redor do mundo assistirão à disputa de trinta e duas seleções nacionais sediada no Catar. Qual outro esporte representaria assim a maior parte da humanidade? O futebol, no campo e fora do campo, massivamente praticado e assistido, aproxima classes sociais, raças, credos e nacionalidades.

É verdade que a história do futebol foi e continua manchada por episódios de corrupção, violência e racismo, mas isso não impede que seja autenticamente o “jogo bonito”. A expressão, utilizada pelo Rei Pelé, refere-se à beleza dos gols, dos dribles, pedaladas, voleios e bicicletas, do domínio habilidoso dos jogadores e da união dos jogadores. Mas serve também para indicar uma beleza que está além da disputa dos 22 em campo, advinda da capacidade do futebol de promover uma “cultura do encontro”.

“Propagar a compreensão e a reconciliação entre as raças do mundo” era um dos ideais defendidos por Jules Rimet ao propor a realização de um campeonato mundial para as seleções nacionais. Embora profundamente envolvido com o esporte, a religião e a política eram também centrais na vida de Rimet. Católico devoto, tornou-se membro do Círculo dos Trabalhadores Católicos de Gros-Caillou no início da década de 1890. Inspirado pela encíclica Rerum Novarum do Papa Leão XIII, Rimet formou, junto com outras pessoas, uma organização que oferecia ajuda social e médica aos mais pobres. Mais tarde, ajudou a fundar o “Le Revue”, um pequeno jornal que ajudou a popularizar a doutrina social do Papa Leão XIII. Em 1897, ele e seu irmão Modeste fundaram o clube esportivo Red Star, que se propunha a ir além do esporte, ao buscar, com um espírito cristão, a reconciliação das classes sociais e o alívio dos infortúnios dos mais pobres.

Podemos considerar que o ideal de Rimet, que via o futebol como fator de união dos povos, foi parcialmente bem-sucedido. No período em que ele presidiu a FIFA, de 1921 a 1954, a Copa do Mundo se consolidou e a FIFA passou de 12 para 85 membros. No entanto, muito do que se tornou o futebol e a própria Copa do Mundo seria estranho a ele. Rimet, que defendia a ascensão das classes trabalhadoras por meio do esporte, provavelmente se escandalizaria com a lógica mercantilista imposta ao futebol hoje.

A Copa do Mundo de 2022 já é a Copa mais cara da história, com custo estimado de US$ 220 bilhões. Em comparação, a Rússia gastou US$ 11,6 bilhões para 2018. O evento carrega um custo ainda mais elevado, o custo humano. O jornal inglês “The Guardian” informou que 6.500 trabalhadores teriam morrido no país desde 2010, quando o Catar foi escolhido como sede. Segundo a FIFA, o número oficial de mortos na construção é de apenas 37 trabalhadores. São incontáveis as denúncias de regimes análogos à escravidão, com jornadas de 14 a 18 horas diárias, em trabalhos perigosos e de baixa remuneração, muitas vezes realizados em calor extremo. Quanto mais detalhes vêm à tona, mais distante dos ideais de Rimet: uma elite celebra sua opulência nas arquibancadas, enquanto a classe trabalhadora sem direitos é explorada para fazer a festa.

A Copa precisa ser uma ocasião de diálogo e de enriquecimento humano recíproco, e não apenas um espetáculo a ser visto a qualquer preço. Nas palavras de São João Paulo II, “o sentido de fraternidade, a magnanimidade, a honestidade e o respeito pelo corpo — sem dúvida virtudes indispensáveis para todos os bons atletas — contribuem para a edificação de uma sociedade civil na qual o agonismo substitua o antagonismo, o encontro prevaleça sobre a competição e o confronto leal sobre a contraposição vingativa. Entendido desta maneira, o esporte não é um fim mas um meio; pode tornar-se veículo de civilização e distração genuína, estimulando a pessoa a pôr em campo o melhor de si e a evitar o que pode ser perigoso ou de grave prejuízo para si mesmo e para os outros”.

Com essa visão sobre o “jogo bonito” e sem fechar os olhos para as tristezas do futebol e a exploração dos trabalhadores, a Comunhão Popular recorda Jules Rimet e segue em torcida confiante pelo Brasil.

Sob Deus e com os pobres,

A Comunhão Popular

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